VELHICE - Pe. Fábio de Mello
"Minha gente, eu sempre tive um carinho muito especial por velhos. Sabem
disso, né? Eu me lembro que quando eu era criança, eu ficava encantado, vendo
lá em Formiga - na cidade que eu nasci; os velhinhos que ficavam lá na praça
jogando cartas, conversando fiado... Eu ficava olhando e pensando: meu Deus do
céu, quando eu crescer quero ser aposentado. É verdade! Acho que o primeiro
projeto que tive na vida foi ser aposentado.
A velhice nos traz direitos
maravilhosos, né? Fico pensando no tanto que a juventude é cheia de obrigações.
Semana passada mesmo, eu estava pensando... Gente, como é difícil você ser
jovem e ter o direito de se cansar, né? O velho não. Ele pode ficar cansado a
hora que quiser, pode deitar na hora que quiser, pode dormir a hora que quiser;
o máximo que vai ter é alguém batendo nas costas dele: "não, não liga
não.. Mamãe ta velha"... A gente tem uma agenda tão pesada que muitas
vezes não tem nem o direito de adoecer, né? E a velhice, esse tempo que a gente
tem o direito de viver essa doce inutilidade. Porque, por mais que a gente se
torne um velhinho esperto, né?... Tem uns aí... Muito espertos... Aquele amigo
seu, né? Que não aceita que envelheceu...Tem esse tipinho!
Por mais que a gente
não aceite. Por mais que a gente seja um velhinho animado, esperto. A gente não
tem como fugir disso. mais cedo ou mais tarde na vida, a gente tem que
experimentar esse território desconsertante da inutilidade. Eu sei que a
palavra é pesada, mas esse é o movimento natural da vida. Perder a juventude de
alguma maneira, é você também perder a sua utilidade. É consequência natural da
idade que chega. Quando o tempo sopra sobre nós essa poeira, né? Quando a gente
vai perdendo as habilidades e as destrezas da juventude, a gente experimenta
essa inutilidade que a velhice proporciona.
Mas veja pelo lado bom, porque a
gente tem que ser otimista; a utilidade é uma coisa muito cansativa. Você ter
utilidade pra alguém é uma coisa muito cansativa. Ta certo, realiza.
Humanamente falando é interessante você saber fazer as coisas, mas eu acredito
que a utilidade é um território muito perigoso, porque muitas vezes a gente
acha que o outro gosta da gente, mas não. Ele ta interessado naquilo que a
gente faz por ele. E é por isso que a velhice é esse tempo que passa a
utilidade e aí fica só o seu significado como pessoa. Eu acho que é um momento
que a gente purifica, né? É o momento em que a gente vai ter a oportunidade de
saber quem nos ama de verdade. Porque só nos ama / só vai ficar até o fim,
aquele que depois da nossa utilidade, descobrir o nosso significado. Por isso
eu sempre peço a Deus, sabe? Sempre faço à Ele, a oração D'Ele. Poder
envelhecer ao lado das pessoas que me amem. Aquelas pessoas que possam me
proporcionar a tranquilidade, né.. De ser inútil, mas ao mesmo tempo, sem
perder o valor. Quando eu viver aquela fase na vida: põe o Pe. Fábio no sol...
Tira o Pe. Fábio do sol... Aí eu peço à Deus sempre a graça de ter quem me
coloque ao sol, mas sobretudo, alguém que venha me tirar depois. Alguém que
saiba acolher a minha inutilidade. Alguém que olhe pra mim assim, que sabe /
que possa saber que eu não sirvo pra muita coisa, mas que eu continuo tendo meu
valor.
Porque a vida é assim, minha gente, fique esperto, viu? Se você quiser
saber se o outro te ama de verdade, é só identificar se ele seria capaz de
tolerar a sua inutilidade. Quer saber se você ama alguém? pergunte a si mesmo:
quem nessa vida já pode ficar inútil pra você, sem que você sinta o desejo de
jogá-lo fora? É assim que descobrimos o significado do amor. Só o amor nos dá
condições de cuidar do outro até o fim. Por isso eu digo: feliz aquele que tem
ao final da vida, a graça de ser olhado nos olhos e ouvir a fala que diz:
"você não serve pra nada, mas eu não sei viver sem você"." Pe.
Fábio de Mello
http://nevesanynha.blogspot.com.br/2013/11/velhice-pe-fabio-de-mello.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário