domingo, 27 de março de 2011

"Essas terras que tem palmeiras onde cantam os sabiás"; essas terras não são minhas! Mas, lutarei por elas e lutarei para que enquanto eu aqui estiver e enquanto eu desejar conquistá-las, que exista mais respeito e mais dignidade no nosso viver".

DISCRIMINAÇÃO RACIAL - Palavra da autora

Nesses meus vinte e cinco anos de vida eu ainda não havia notado tão fortemente a existência da discriminação racial. Essa discriminação, às vezes, está implícita em piadas, mas ela se mostra claramente no nosso dia-a-dia; justamente naquilo que é incapaz de nos fazer sorrir. 

Hoje posso, de maneira mais contundente,  afirmar que vivo em um país cuja discriminação está geneticamente em seu DNA - de forma suja e repugnante.  Afirmo, sem qualquer receio, que os olhos da discriminação racial estão cada vez mais cegos para a igualdade e o respeito. 

As pessoas dissimulam o tempo inteiro uma democracia racial que esta terra, que este Brasil brasileiro ["de sambas e pandeiros"] jamais teve o prazer de sustentar. A igualdade que está nas nossas músicas e nas nossas danças e em outras expressões culturais, não está na nossa experiência de vida!

_ Aquele que ousa pensar diferente está enganando a ele mesmo; pobre de quem tenta deturpar sua própria realidade!

O pior da discriminação é que ela aparece mascarada pelo agente discriminador e que esse, além de inventar motivos para que não tenhamos o acesso ao "bom da vida", quando conseguimos esse acesso, cuja disputa nunca é igualitária, ele [o agente discriminador] busca tornar o ambiente o mais insustentável possível para que não possamos gozar de boas oportunidades.

E o que vem a ser esse "bom da vida"?


O "bom da vida" é aquilo que muitas vezes ouvimos falar e que não se encontra, facilmente, ao nosso alcance: é a escola de qualidade, que muitas vezes não é pública; é o acesso igualitário ao Ensino Superior, que muitas vezes está presente nas Faculdades Federais - que por Lei deveriam ser nossas - mas, que não temos formação suficiente para passar em seus vestibulares [E em relação às cotas? _ Não venha me falar se ser contra ou a favor das cotas, pois na hora de querer utilizá-las todos se tornam negros, indígenas e pobres!].


O "bom da vida" são bens e serviços que nossos míseros salários não tem como comprá-los; é o trabalho digno e a formação profissional que nossa rotina não nos permite desfrutar e muito mais do que isso; é uma série de oportunidades que nos são tomadas todos os dias, a maior parte das vezes, por mãos brancas da alta classe social e política, cuja vida apresenta uma qualidade [ em termos de acesso a bens e serviços] que para nós é titulada de "sonho".

É estranho dizer que eu tenho um sonho ["I HAVE A DREAM"]  que, às vezes, se confunde com a simples efetivação dos meus e dos nossos direitos.


Esses direitos deveriam ser efetivados para mim enquanto cidadã brasileira, para mim enquanto mulher, para mim enquanto negra. Em suma, para mim enquanto mulher negra e brasileira de braços cansados de carregar uma cruz da desigualdade e de braços que não se deixam de lutar a favor de melhorias para o ser humano e para esse espaço onde eu vivo, o qual, tristemente olho e digo que não é meu. Afinal de contas,  "essas terras que tem palmeiras onde cantam os sabiás"; essas terras não são minhas! Mas, lutarei por elas e lutarei para que enquanto eu aqui estiver e enquanto eu desejar conquistá-las que  exista mais respeito e mais dignidade no nosso viver. 

Através de tantas lutas e esforços coletivos e individuais - muitas vezes presentes nas pressões políticas por mais ações afirmativas é que agimos a favor de nós mesmos._Se a discriminação não pára, se a justiça tarda e falha, não temos nenhum motivo para cruzar nossos braços; OS MOVIMENTOS SOCIAIS NÃO PODEM CESSAR!

Autora: Tânia B. Teodoro

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